Tempo
O sol acordava quando caminhei em direção ao mar, encantado presente de uma Energia Maior, para energizar minh`alma e iniciar o meu labor.
Passo por pessoas indo para seus afazeres, muitas já nervosas (tão cedo...) porque estão com pressa, inúmeras que desconhecem o valor da vida e, com seus carros, desviam roteiros, ultrapassam quem obedece às normas, derrubam muros, gesticulam em busca do nada.
Tudo observo e penso no tempo... Tempo que precisamos internalizar em nosso coração para sobreviver melhor.
Tempo de ouvir o respirar, o que o corpo pede, o que o bom senso exige.
Tempo de jogar fora palavras que magoam, que ferem, que tiram a paz.
Tempo de acalentar a alma, fazê-la adormecer porque é chegado o momento em que se precisa sobrevoar outros espaços alheios à realidade para continuar.
Pensar o tempo. Tempo de se guiar pelos próprios pensamentos, questionar as emoções, parar e saber o destino das quimeras e as certezas que foram norte na vida...
Tempo de indagar porque ficamos cegos e não enxergamos uma realidade que está tão visível abrindo a clara visão e persistimos em acreditar.
É tempo...
De questionar por que se ouviu apenas a voz que camufla e brinca de esconder com os desavisados de maldade e se deixou ficar com olhos fechados para a vida que passava diante dos olhos e sentidos.
Tempo de certas pessoas arrancarem de suas vidas a raiva, a inveja, a calúnia e o desamor renascendo e destruindo nelas a mentira, o desrespeito e a ausência de caráter.
As calçadas não são mais pouso seguro para as pessoas. Nelas estão estacionados carros, muitas cobertas de mato e lixo.
Como fazer o trabalho como Faxineira se o que procuro limpar e aspirar são ausências de sentimentos e constato o desrespeito a partir do que negam ao cidadão?
Ah! O tempo! Como seria bom todos repensarem...
Tempo de saber as formas de evitar as mágoas que criam elos na essência e maculam a alma amordaçando as vontades de amor e de bem querer.
Entristeço meu coração olhando as ruas tão sujas, a falta de higiene das pessoas, a ausência de direitos e deveres em minha aldeia tão linda. Bancos de praças destruídos, passeios provocando acidentes e quedas, falta de jardins, flores que encantam e alegram qualquer lugar.
Tempo de lembrar...
O tempo vai mostrando sua história. A memória de uma comunidade deve ser abraçada revivendo fatos, reverenciando ilustres que a dignificaram.
Aproxima-se o centenário de um homem das terras de Pirangi (Adonias Filho) que deixou gravadas historias da região cacaueira e precisa ser lembrado aqui pois muito se falou desta terra e deixou uma obra admirável para a literatura.
Tempo de lembrar...
Uma obra, que se prepara para comemoração, também de seu centenário, edificada numa colina abriu as fronteiras da educação para toda a gente grapiúna, alicerçou a existência na fé, na formação, na beneficência: O Instituto Nossa Senhora da Piedade!
Vejo pessoas insatisfeitas pelos calçadões, outras criticando sem conhecimento, muitas vendo a degradação de uma terra que precisa ser pensada com novos olhares.
É tempo de acordar. A vida adormece rápido.
É tempo de reflexões sobre as indiferenças, os atos de esquecimento, as confidências ditas para messalinas e indignos que possuem o dom de aniquilar e distorcer.
Ainda é tempo.
De preparar o coração até para a solidão que precisa ser vivenciada em sua essência e também pode ser companhia.
Ainda é tempo para as reflexões profundas que ainda terão espaço se feitas com alma descansada.
Tempo para dizimar a intolerância e acomodar o entendimento, para vozes serem ouvidas, para competições e perseguições demoníacas serem neutralizadas, porque é tempo de aliviar o coração para a vida ser respeitada.
Volto ao meu trabalho...!
Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e cronista no sul da Bahia